Aqui quem fala é apenas um homem
Que não tem uma cara e nem ao menos um nome
E como a maioria, não tenho cultura
A minha língua é a gíria, malandragem pura
Mas eu tenho o bom senso e estou ciente
Que a lei do silêncio é um ato inteligente
No conceito dado pela marginalidade
Onde sou considerado e me sinto a vontade
Pra falar de autoridade incompetente
Que vem compartilhar esse mesmo ambiente
Dessa situação, só encontramos um culpado
O Brasil é o inferno e o governo é o diabo
Pode crer, estamos do mesmo lado
Eu, você e todo o povo favelado
Pode crer, estamos do mesmo lado
Quando começou, eu tinha apenas dez anos
E isso ainda me comove muito, mano
Mais um filho bast*rdo da família Brasil
Um menor abandonado dessa guerra civil
Também pudera, depois na Funabem
Lá no meio da galera, do quem é quem, é
Onde a lei imposta era de ganhar no bruto
Como o diabo gosta, era de corpo e espírito
Se pisar na bola e tentar a sorte
O azar é que é certo e pode te levar a morte
E esses ensinos incentivaram minha revolta
E ainda menino, sai de lá com a vida torta
E de volta ao mundo, fui morar numa favela no subúrbio
Sem [?] com a galera
Adolescente, na perdição absoluta
Drogas, violência e namoradas prostitutas
Pois o clima quente era a verdade dócil
Que me deu um gelo pois eu seria o próximo
A provar toda minha coragem
Conquistar conceito com a malandragem
E foi num pagode, de maneira calma
Que eu peguei o X-9, libertei a sua alma
Ganhei uma pistola, virei um assaltante
Terror das escolas e também dos bailes funk
Pequenos furtos era minha profissão
Foi o que me levou para dentro da prisão
Pego em flagrante assaltando um burguês
Que jurou naquele instante tá na bola da vez
E na delegacia, onde fiquei por um ano
Presenciando a covardia naqueles seres humanos
[?] da madrugada era mau à vera
E a troco de nada abaixava a porrada
E jogava água na cela e ao amanhecer
Ao ver o sol nascer quadrado, a esperança de sobreviver
Para ser julgado, é
Pode crer, estamos do mesmo lado
Eu, você e todo o povo favelado
Pode crer, estamos do mesmo lado
E no banco dos réus com medo de ser condenado
A justiça pública me deu um advogado
Para ele, eu já era bandido
Simplesmente culpado
E graças ao meu desabafo perante o juiz
Hoje eu não tô num presídio, pois num país
De injustiça e impunidade
Ele sentiu minha realidade
Na dependência de roubar para comer
A minha inocência na intenção só de viver
Eu fui absolvido como um réu primário
E hoje eu sobrevivo só do meu trabalho
E o meu passado serve como exemplo
A menor abandonado, adolescente violento
Que vive de tudo subindo as escadas
Do precipício do mundo que não nos leva a nada
Faça a libertação da sua mente escrava
E busque uma razão em suas palavras
Tente dizer "eu te amo" a um amigo
E acredite, mano, nada disso tá perdido
Pode crer, estamos do mesmo lado
Eu, você e todo o povo favelado
Pode crer, estamos do mesmo lado
É, pode crer, estamos do mesmo lado
Eu, você e todo o povo favelado
Pode crer, estamos do mesmo lado